sexta-feira, 15 de maio de 2009

CAP. 09 - FILOSOFIA POSITIVISTA

CAPÍTULO 09

FILOSOFIA POSITIVISTA

A filosofia pergunta, desconstrói o aparente e o falso, pergunta, cuida de si e dos outros, pergunta, resiste a ordem instituída, pergunta, outra vez pergunta, sempre pergunta (Walter Kohan)

O Positivismo é, no século XIX, a versão do Realismo aristotélico, na sua face materialista e empirista, graças ao espírito criador de Augusto Comte (1798 -1857).
No dizer de Cotrin: O termo positivismo foi adotado por A. Comte, para designar toda uma diretriz filosófica marcada pelo culto da ciência e pela sacralização do método científico.
O positivismo expressa um tom geral de confiança nos benefícios da industrtialização, bem como um otimismo em relação ao progresso capitalista, guiado pela técnica e pela ciência... o positivismo reflete, na plano filosófico, o entusiasmo burguês pelo progresso capitalista e pelo desenvolvimento técnico-industrial” (COTRIN, 1997 : 181). Se a filosofia é, a nível da inteligência, a expressão das tendências de uma época, a filosofia positivista expressão do que estava acontecendo de mais positivo a partir século XVIII.
De sua vez, Mondin acrescenta:
No século XIX, os cientistas multiplicavam suas descobertas sobre aspectos da natureza e do homem...Tudo isto parecia justificar a ilação de que a única filosofia verdadeira fosse a própria ciência... Por um lado, ele propõe-se a libertar o homem de todas as alienações ideológicas que o haviam anteriormente aguilhoado à religião e à metafísica; por outro lado, pretende adquirir um conhecimento do homem como ser social, valendo-se do método das ciências experimentais: como as ciências são idôneas para formular as leis relativas ao desdobramento dinâmico da realidade natural, assim também devem ser idôneas para formular as leis relativas ao desenvolvimento do mundo social humano (MONDIN, 1980 : 127).

Princípios do Positivismo e sua crítica:

1 - A facticidade
Segundo o Positivismo, “os fatos são os fatos” e “contra fatos não há argumento”. Ardigó, um dos corifeus do Positivismo, dizia: “O fato é divino”. Esta filosofia dissolve a subjetividade na objetividade. Na relação su jeito/objeto, o objeto se sobrepõe ao sujeito, de tal maneira que acaba amofinando ou até destruindo o sujeito. O ser humano é lançado entre as coisas em situações dadas e não escolhidas por ele. Torna-se um ser determinado, sem liberdade.
Crítica a esse princípio: os fatos não são os fatos, mas o que se diz dos fatos. Na posição que sustentamos, a versão, obra humana, é mais importante do que os fatos. O ser humano é a cabeça pensante do universo e não seu capacho.
2 -Experimentalismo/Cientificismo. A realidade se restringe ao sensível e à experiência quantificável: “Tudo quanto existe, existe em uma quantidade e é, portanto, mensurável”, disse Thorndik. Confirmando a tese empirista, proclama que nada existe fora dos sentidos.
Os positivistas apregoam que a ciência é um sistema fechado e definitivo, o únco capaz de trazer respostas e soluções para todos os problemas. Por isso, ela inaugura a era da positividade - daí Positivismo - A ciência pode tudo. Como dirá Watson: dêem-me doze crianças sadias, de boa constituição e a liberdade de poder criá-las à minha maneira. Tenho a certeza de que, se escolher uma delas ao acaso, e puder educá-la, convenientemente, poderei transformá-la em qualquer tipo de especialista que eu queira - médico, advogado, artista, comerciante, e até mesmo em mendigo e ladrão, independente de seus talentos, propensões, tendências, aptidões, vocações e da raça de seus ascedentes” (ARANHA, p. 190). Usando-se a ciência, pode-se fazer do homem o que se quiser: santo/demônio, religioso/ateu, crente/descrente; daseisn/dasman[1], feliz/infeliz, rico/pobre, abastado/indigente, simpáti-co/antipático, masculino/feminino, gigante/pigmeu.
Está inaugurada a era do cientificismo e do experimentalismo. Aquele, a tentativa de substituir a filosofia pela ciência; esta fica reduzida a um papel subalterno de sistematização e de metodologização da ciência. Quanto a seu antigo conteúdo, passa ele agora para o âmbito da ciência. Anula-se a subje-tividade, característica histórica da filosofia. Quanto ao experimentalismo, temos agora a suupervalorização da empiria, agora única expressão ontológica positiva e, conseqüentemente, única via de acesso à realidade. Suprime-se o direito da filosofia de legislar e exercer jurisdição sobre as questões do conhecimento, tal como vinha fazendo pela Teoria do Conhecimento.
Como crítica a este princípio é só reler o que está escrito nos capítulos 02, 04, 05 e 06 a respeito da crítica em geral. Reler sobretudo o item “crítica” no capítulo 05.
3 - O Mecanicismo
O mecanicismo[2] afirma que tudo está se reduz ás ações mecânicas, sendo as idéias produtos da matéria. Está baseado em dois antecedentes. Um tirado da filosofia da Física de Aristóteles e, indevidamente, recuperado pelo Positivismo, depois de ter sido abandonado pelos filósofos da Renascença. Aristóteles ensinou que o mundo físico é composto de sete esferas: três supralunares e quatro sublunares. Lembre-se também que o mesmo Aristóteles ensinou que o universo físico é a matriz das idéias: - “nada chega à inteligência que não tenha passado primeiro pelos sentidos”. Sendo assim, este universo acaba, em última análise, pautando o mundo dos homens, a sociedade. Por isso mesmo, a sociedade deve ser a imagem e semelhança do mundo físico: deve ser também organizada em classes (esferas) que não se penetram mutuamente. Explicitando mais: se o mundo físico é constituído de esferas não interpenetráveis, do mesmo modo, a sociedade é composta de classes que não se misturam
O outro antecedente é a antropologia de Descartes que ensinou que o homem é uma máquina, conduzida pela alma, teoria complementada por Newton; este estendeu a teoria antropológica de Descartes ao mundo físico (ao cosmos), afirmando que o mundo é uma máquina: “Um relógio perfeito que nunca adianta nem atrasa”. Somos todos amarrados ao carrocel do universo. Sendo assim, adeus individualidade, adeus subjetividade.
Que o mecanicismo leva à supressão do maior galardão do ser humano, a liberdade, facilmente se depreende. Nessa visão, o homem será, inapelavelmente, produto do meio e comandado pela máquina do universo, pois, a ser assim, será ele manipulável, criatura circunstancial, governado por estímulo do meio ambiente externo.
4 - O evolucionismo
O mundo e a sociedade evoluem, mas trata-se de uma evolução linear e concebida de maneira mecânica. De acordo com o Positivismo, a história desenvolve-se num movimento contínuo de progresso, isto é, cada época, em grau mais elevado, projeta-se adiante, em progressão infinita, sob o comando da razão. Os ideais positivistas de progresso estão expressos no seguinte lema: o amor por princípio, a ordem por base e o progresso por fim.
Crítica ao lema do Positivismo: diante das filosofias existencialistas e, principalmente, diante da filosofia dialética, esse lema é inaceitável, como teremos oportunidade de expor em seu devido espaço.
5 - O associacionismo
O Associacionismo é um método de conhecimento criado pelo Empirismo. O conhecimento não se faz por abstração, como preconizavam o Realismo Clássico e o Realismo Medieval, mas se faz por associação. Para melhores esclarecimentos e exemplificação, voltar ao cap. sobre o Empirismo, sobretudo a tópica dedicada a Davi Hume.
Crítica: no referido capítulo, vimos que, seguindo o método da associação, o conhecimento perde sua referência com a realidade, tornando-se um ato de fé. De mais a mais, se a nível micro é válido o uso do método da associação, a nível macro, ele se mostra inteiramente inviável. Exemplo: se se quer conhecer uma galáxia, compará-la com quê?
6 - O ambientalismo
A idéia do ambientalismo está muito ligada aos dois itens anteriores: associacionismo e mecanicismo. É contemporâneo dos dois e conota idéias semelhantes. “O homem é produto (linear, mecânico) do meio”. “O homem é produto (linear, mecânico) das circunstâncias”[3]. O ambiente produz de maneira linear e mecânica o homem - seu conhecimento - associando elementos do mundo circundante.
Crítica: Não negamos a influência do ambiente na construção do ser humano. Muito me encantou o modo interessante de Paulo Freire se definir a si mesmo: “eu sou Paulo Freire, a partir da Rua 48, do Bairro do Pau Amarelo, da cidade do Recife, do Estado de Pernambuco, do Brasil, da América Latina, do continente americano”, e assim por diante.
Não obstante, todavia, esse laço tão forte com o ambiente, contrapõe-se o lado autonomizante do ser humano, sua vocação para a liberdade – ad libertatem vollat, como escreveu o poeta Virgílio.

Características gerais do positivismo:
O motivo do método positivista de investigação é a pesquisa das leis gerais que regem os fenômenos naturais. Com base nas leis, o homem torna-se capaz de prever os fenômenos, podendo agir sobre a realidade: ver para prever, prever para prover. O conhecimento científico visa a transformação da realidade e a transformação visa o progresso, este, porém, deve estar subordinado à ordem. Daí o lema positivista: ordem e progresso[4] .
A dinâmica social está assim formulada: 0 amor por princípio, a ordem por base e o progresso por fim.
Quanto ao Neopositivismo (também chamado, Positivismo lógico, Filosofia da Análise) é opinião que ele nada tem a ver com a Filosofia positivista de Augusto Comte, sobretudo a seu facticismo.
Crítica geral ao Positivismo
Não se pode negar o impulso que a filosofia positivista deu ao desenvolvimento da ciência. Não obstante, o lado negativo pesa demais. Além das críticas pontuais já elaboradas, levantamos algumas genéricas, como: a – incrementa a divisão de classe que, em nossa visão, consubstancia o antece-dente mais acirrador da violência; b – fomenta a competitividade capitalista e mercadológica que, em sua expressão mais agudizante leva à miséria milhões e milhões[5] de seres humanos; c – mais do que uma filosofia, o Positivismo é uma forte ideologia a serviço da burguesia dominante; d – seu mecanicismo, colocando de volta, em plena idade contemporânea a cosmologia aristotélica, é uma intempestividade inadmissível; por esse motivo, - e aqui está a crítica mais importante – o Positivismo é uma filosofia essencialista, pois o mundo físico formata a sociedade e esta, o indivíduo. Isto é apriorismo, essencialismo.















[1] Ver Heidegger no cap. d11
[2]O termo mecanicismo dá idéia de movimento, só que, diferentemente da dialética, este movimento é provocado por uma força externa, quer seja ela divina, quer seja a própria força gravitacional do universo.
[3] Segundo a filosofia dialética, o ambiente influencia na construção do ser humano, mas não de maneira linear, mas dialética: O ambiente constrói o homem e o homem constrói o ambiente.
[4] Notar que a proclamação da República brasileira se deu sob o signo da Filosofia Positivista, que dominava as mentes brasileiras na época. Daí se ter colocado na bandeira nacional o lema do Positivismo: ordem e progresso.
[5] Segundo estatísticas fidedignas, chega-se a quatro bilhões de humanos, vivendo na pobreza extrema, destes, muitíssimos abaixo da linha da pobreza.

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